quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"As pessoas não me consideram um escritor." ( Chico )

"As pessoas não me consideram um escritor. Elas me perguntam "ah, você escreveu um livro? ". E toda vez é a mesma coisa...", revelou Chico, vencedor da 8a. edição do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, na capital paulista. (Revista.Caras n.71).

Sabemos que, cantor e compositor, Chico Buarque de Holanda é um dos principais representantes da MPB. Como compositor sua obra é notável principalmente pelo cuidado com a estrutura da linguagem, pelo engajamento evidente com as questões sociais nas peças Roda Viva, Calabar, Gota d'agua e Ópera do Malandro, e a novela Fazenda Modelo.

Acostumamos os nossos ouvidos ao Chico romântico, provocador, debochado compondo e cantando  nossas "Cantigas de Amigo" assim como os trovadores medievais, aliás melhor que os trovadores medievais na sua compreensão e capacidade de expressão da alma feminina. Chico diz, muito bem,  o que nós mulheres dizemos e sentimos. E o mecanismo de identificação com seu  eu lírico feminino é imenso e intenso.

"Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos  homens me amaram
Bem mais e melhor que você."

Olhos nos olhos Chico! você diz o que tantas mulheres  já disseram ou dirão quem sabe...

Ouvir Chico é uma coisa, ler Chico é outra coisa, dai  a perplexidade de alguns "ah, você escreveu um livro?"
Creio que ele é tão notável na poesia quanto na prosa, não poderia ser diferente! não poderia. Quem leu o seu primeiro romance o Estorvo percebeu que ele veio para ficar e ocupar lugar de destaque  com sua prosa no cenário da Literatura Brasileira..
O olho mágico, o olho aberto, a percepção é o postulado sobre o qual Chico baseia sua concepção de romance no Estorvo. É, pois, os aspectos das realidades externas que ele se detém.

Penso que a questão aqui é a  Poesia  e Prosa, e então me lembro de Caetano Veloso quando escreveu Língua.
"Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões.
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de paródias
Que curtem dores
E furtem cores como camaleões.
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa,
e sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade.
E quem há de negar que esta lhe é superior?

Pois é! toda poesia pode ser prosaica e toda prosa pode ser poética não é? Sabemos.....

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto! Tem muito de nossas antigas aulas. Aulas que devem ser transformadas em conversas amigáveis, logo após um cinema! Lembrei de quando a gente estudou trovadorismo e vc falava que Chico e Caetano escreviam "Cantigas de Amigo"... Lembrei das suas citações a respeito desse trecho da poesia de Caetano: "e sei que a poesia está para a prosa
    Assim como o amor está para a amizade." Bons tempos eram nossas aulas e serão, agora, nossas conversas sem compromisso, mas com conteúdo!

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