"As pessoas não me consideram um escritor. Elas me perguntam "ah, você escreveu um livro? ". E toda vez é a mesma coisa...", revelou Chico, vencedor da 8a. edição do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, na capital paulista. (Revista.Caras n.71).
Sabemos que, cantor e compositor, Chico Buarque de Holanda é um dos principais representantes da MPB. Como compositor sua obra é notável principalmente pelo cuidado com a estrutura da linguagem, pelo engajamento evidente com as questões sociais nas peças Roda Viva, Calabar, Gota d'agua e Ópera do Malandro, e a novela Fazenda Modelo.
Acostumamos os nossos ouvidos ao Chico romântico, provocador, debochado compondo e cantando nossas "Cantigas de Amigo" assim como os trovadores medievais, aliás melhor que os trovadores medievais na sua compreensão e capacidade de expressão da alma feminina. Chico diz, muito bem, o que nós mulheres dizemos e sentimos. E o mecanismo de identificação com seu eu lírico feminino é imenso e intenso.
"Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você."
Olhos nos olhos Chico! você diz o que tantas mulheres já disseram ou dirão quem sabe...
Ouvir Chico é uma coisa, ler Chico é outra coisa, dai a perplexidade de alguns "ah, você escreveu um livro?"
Creio que ele é tão notável na poesia quanto na prosa, não poderia ser diferente! não poderia. Quem leu o seu primeiro romance o Estorvo percebeu que ele veio para ficar e ocupar lugar de destaque com sua prosa no cenário da Literatura Brasileira..
O olho mágico, o olho aberto, a percepção é o postulado sobre o qual Chico baseia sua concepção de romance no Estorvo. É, pois, os aspectos das realidades externas que ele se detém.
Penso que a questão aqui é a Poesia e Prosa, e então me lembro de Caetano Veloso quando escreveu Língua.
"Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões.
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de paródias
Que curtem dores
E furtem cores como camaleões.
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa,
e sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade.
E quem há de negar que esta lhe é superior?
Pois é! toda poesia pode ser prosaica e toda prosa pode ser poética não é? Sabemos.....
Muito bom esse texto! Tem muito de nossas antigas aulas. Aulas que devem ser transformadas em conversas amigáveis, logo após um cinema! Lembrei de quando a gente estudou trovadorismo e vc falava que Chico e Caetano escreviam "Cantigas de Amigo"... Lembrei das suas citações a respeito desse trecho da poesia de Caetano: "e sei que a poesia está para a prosa
ResponderExcluirAssim como o amor está para a amizade." Bons tempos eram nossas aulas e serão, agora, nossas conversas sem compromisso, mas com conteúdo!