quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Cisne Negro - a arte como representação.

"Eu só queria ser perfeita" diz Nina a personagem de Cisne Negro.
Em boa companhia fui ao cinema. Chegamos com uma hora e trinta minutos de antecedência. Entramos na nossa livraria preferida. Naquele momento o nosso interesse, confesso, não eram os livros. Atualizamos  as conversas, degustamos algumas iguarias maravilhosas, no mezanino,  entre livros, gente que comia e gente que lia sentada nas mesas e gente que conversava baixinho.

Duas horas e trinta minutos depois,  suponho, saímos da sala de exibição com os ouvidos impregnados de música e os olhos embevecidos com as  peripécias de Darren Aronofsky, um dos cineastas mais elogiados da atualidade, capaz de trabalhar com vários registros, haja vista o filme  "A Vida não é um Sonho". Aronofsky agora invadiu o mundo do ballet e é nomeado pela primeira vez ao Oscar por Cisne Negro.

Estávamos ansiosos para ver de Tchaikovsky o Lago dos Cisnes, um marco na história da dança, um ballet dramático em quatro atos, agora com uma intrigante releitura de D.Aronofsky, o Cisne Negro!
O Lago dos Cisnes é uma história de amor e morte, de feitiço, de beleza, de magia e feitiçaria, paixão e abandono, vingança e perdão. Creio que esse drama envolvendo cisnes brancos que se transformam em donzelas, na calada da noite, fascinou o Aronofsky. Penso que  ele mergulhou no Lado dos Cisnes depois que bebeu na fonte de  Roman Polansky, no tratamento dado ao tema  da duplicidade presente em " O Inquilino" e " Repulsa do Sexo" e ainda de Ingmar Bergman  " Persona".

Penso que que ele, Darren não tenha o objetivo deliberado de assustar o telespectador com a trajetória sinuosa de Nina, que só queria  sair de dentro de si e  atingir a perfeição para dançar o Cisne Negro.
Simbolista e psicológico o Cisne Negro abordando o tema da fascinante e inesgotável da duplicidade tão do interesse da filosofia, das artes e da literatura.

O Cisne Negro permite muitas outras leituras, mas eu vou ficar por aqui.
Vejam o filme e comentem sem moderação!

3 comentários:

  1. Eu pedi tanto e tá ae!
    Ainda com referências a mim!!
    Tô lisonjeado!Achei o filme tão barroco com essa característica de dualidade...
    O filme é inebriante!
    E é claro que teve seu toque especial na análise!!

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  2. Silvia, já nos falamos hoje, agora venho ao seu blog ler tão fina análise. O filme é esplêndido, é de uma beleza inusual, trava um diálogo profundo e complexo com a psiquê humana, destitui o balé do seu palácio encantado e virginal e o revela nos bastidores de sangue, assédio e fome. Creio que a saga da Nina vale pelo brado de liberdade simbolicamente representado pelo demoníaco Cisne Negro, quando a emoção e a insanidade livram a protagonista de uma rígida prisão comportamental. Neste instante, a pele virando couro de pássaro e as asas brotando não deixam dúvida de que a catarse, em termos artísticos, é inevitável quando se crê. O preço, claro, é a morte, situada no limiar da relaidade e do imaginário, uma metáfora arrebatadora. O espectador é transportado para esta atmosfera ambígua e agoniza, solidário, as somatizações da frágil bailarina que sonhava em ser perfeita. Tenho indícios para acreditar que a unidade dos aspectos cinematográficos deste filme só alcança sua plenitude quando o Darren Aronofsky propõe arranjos desafiadores à música do Tchaikovsky permitindo que a mesma expresse o drama existencial da Nina. Eu peço que você não fique por aqui.

    Um abraço,

    Wesley

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  3. Querido Wesley, lamento profundamente decepcioná-lo, mas... eu fico por aqui, juro.(rsrs)

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